Isso é mais grave em alguma região da cidade, como a Zona Sul, por ser mais turística e valorizada?
 
Acho que o crescimento pode ser maior na Zona Sul, onde a possibilidade de empregabilidade também é maior. A minha preocupação principal é com o que pode acontecer no futuro. Quero ver daqui a 10, 15 anos. Não dá para esperar 10 anos para ter resultado de um Censo (do IBGE) para nos planejarmos.

Isso pode estar está influenciando no aumento de crimes como os de roubo aresidência e assalto a motoristas na cidade?

 

Na Zona Sul tivemos pessoas presas, que eram do Jacaré. Em Niterói, de 400 pessoas presas, 30 eram do Rio. Não dá para dizer que não há migração, mas ela é pequena. A questão é a oportunidade, a facilidade que existe em determinadas áreas.
 

O que tem sido feito contra o crack?

É um problema de saúde pública. Muito crack é apreendido. Não é um produto de valor. Em áreas carentes se compra por R$ 1 ou R$ 2. À medida em que se combate o tráfico de drogas, se combate o crack. Isso porque a venda é feita casada. Os agentes são os mesmos e casam a venda do crack à da cocaína. Vejo isso como um mercado. É uma forma de tornar a venda mais rentável e com menos custo.

E o tráfico de armas e de munição?

 

Eu hoje focaria na criação de um mecanismo de investigação nacional sobre munição. Precisamos ter informações dos produtores sobre quem compra, sobre a origem. Mas não é feito. Se eu pego um fuzil Ruger aqui, não sei como chegou, onde foi fabricado e para onde foi vendido. Busquei a origem daquele monte de armas apreendidas no Alemão e as respostas vieram todas desencontradas.

Estamos em plena Rio+20, depois vem Copa do Mundo. O Brasil não tem tradição de enfrentar problemas decorrentes de embates ideológicos radicais no mundo, que motivam terrorismo. O senhor está preocupado com isso?

Temos que ser preventivos, mas a ação é da Polícia Federal. A gente tem que ficar atento.

Como secretário de Segurança, qual é a sua maior preocupação em relação à Rio+20?

 

É com o cidadão, com a sensação de segurança que a gente tem obrigação de dar ao cidadão carioca. Acho que os grandes eventos são importantíssimos para a cidade. O Exército está dando apoio. O Rio de Janeiro está bem preparado para este evento e também para os outros.


O Rio desperta a curiosidade natural dos turistas nacionais e estrangeiros. O senhor teria alguma recomendação especial para evitar alguma área?

 

Não. Acho que as pessoas podem buscar pontos turísticos no Rio de Janeiro, aproveitar a cidade. Só a PM está com sete mil homens na rua. Está contemplando estes lugares onde normalmente existe acesso de turistas maiores. Acho que tem que ser vida normal para todos nós.

 
Incluindo as favelas?
 
Entendo que as pessoas possivelmente vão a favelas pacificadas. A realidade das áreas que nós temos conflagradas é histórica. Não é na Rio+20 que tem favelas conflagradas. Na Rio 92 tinha muitos mais favelas conflagradas do que tem hoje.

 

O presidente do Tribunal Regional Eleitoral do Rio encaminhou ao TSE pedido de reforço de tropas do Exército ao longo da campanha eleitoral. Como o senhor avalia a atitude?

 

Vi nos jornais a declaração do presidente do tribunal. Se ele acha que há necessidade, não vejo problema. O Exército já é parceiro nosso.

 

Vê necessidade?

 

Só não podemos fazer da Segurança Pública um palanque eleitoral. Mas, se esta é uma demanda do tribunal, a gente aceita, acata e ajuda.

 

O senhor acha que criou uma estrutura? Seu sucessor vai ter estrutura?
 

Sim. Se for trocado amanhã, já deixei tudo pronto. Como o prédio do Centro Integrado de Controle de Comando, a Cidade da Polícia, o Centro de Operações Especiais da Polícia Militar, novas instalações da Secretaria de Estado de Segurança, entre outros.


E a área de tecnologia?

A licitação está em fase final para a aquisição de câmeras para equipar cerca de dois mil carros das polícias.

 

Qual é a previsão para a instalação de UPPs fora da cidade do Rio?


Será preciso esperar um pouco. Pelos menos 40 UPPs estarão instaladas no Rio de Janeiro até o fim de 2014. Hoje já temos 23 UPPs e nos próximos meses serão inauguradas mais quatro no complexo da Penha e ainda tem a UPP da Rocinha.

 

Em que lugar da caminhada o senhor acha que está desde janeiro de 2003?

 
Em função do mundo ideal? Nem na metade.
 
Imagina em 2014 estar em qual ponto da caminhada?
 
Em 2014 eu pretendo estar na casa de 10, 12 homicídios por 100 mil habitantes. Hoje o número é em torno de 24. Conviviam aqui com 60. Quando assumi eram 40.
 

Qual é o índice atual de resolução de investigação de homicídios?

 
Estamos na casa dos 30% a 32% de resolução. A minha meta é buscar 100%. Vamos melhorar com polícia técnica científica. Quando assumi acho que era na faixa de 4% a 5%.


Candidatar-se a governador do Rio está entre os seus planos?


Não. É uma opção pessoal.


O senhor pensa na possibilidade de ser mantido no cargo de secretário de Segurança no novo governo?

 

Não. Já fiz o que tinha que fazer. Não sei para onde vou. Acho que vou me aposentar. Eu criei dois filhos, que hoje estão com 28 e 25 anos, mas não os acompanhei quando eram pequenos porque viajava muito pela Polícia Federal. Me separei e o fato de ter criado meus filhos de longe ficou na minha cabeça. Agora tenho um filho de 2 anos. Quando a minha mulher ficou grávida, planejei me dedicar mais a ele. Mas está pior do que os outros dois. Ele começou a creche este ano e eu só o levei duas vezes. E ainda o deixei chorando.
 

E planeja ter outro filho?
 

Não. Deste mato não sai mais coelho.
Reportagem de Aziz Filho, Elaine Gaglianone e Joana Costa